Câmara Municipal deve dar liberdade de atuação aos seus agentes culturais



A Juventude Social-democrata e a Juventude Popular, sob a égide do “Juntos Por Braga”, realizaram uma Conferência subordinada ao tema “Braga, Capital de Cultura”. O debate realizou-se Espaço Cultural Pedro Remy e teve como moderadora Elisa Lessa, Diretora Pedagógica da Companhia da Música. 

Os oradores foram Ricardo Rio, líder do “Juntos Por Braga”, José Machado, da Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé”, Cónego José Paulo Abreu, Diretor dos Museus da Arquidiocese de Braga, Álvaro Santos, Diretor da Casa da Música de Vila Nova de Famalicão, e Rui Ferreira, Presidente da Associação BragaMais. 

Durante a sua intervenção, Ricardo Rio salientou que em Braga se tem assistido a um dirigismo e a uma municipalização dos agentes culturais que não é benéfica para a promoção e desenvolvimento da cultura. “Quando se usa os recursos financeiros da autarquia para condicionar os próprios agentes culturais, com uma política de atribuição de subsídios que não é de todo transparente e que não segue um critério percetível, obviamente que isso prejudica a cultura e o potencial de desenvolvimento cultural da nossa cidade”, afirmou. 

Para o líder do “Juntos Por Braga”, é essencial dar liberdade aos agentes culturais para que estes possam não só ser mais proactivos e responsáveis pelo seu futuro, mas também mais criativos e capazes de ir ao encontro dos diferentes públicos. “Dar essa liberdade não é abdicar de contribuir para o sucesso dessas iniciativas. Na área cultural o papel da Câmara Municipal não é o de fazer cultural, mas sim o de facilitar o trabalho de quem quer fazer cultura. E isso passa por facultar infraestruturas, por criar apoios para as diferentes iniciativas e atividades e por proporcionar aos agentes um espaço de ligação e discussão entre si”, sublinhou, reafirmando a sua intenção de criar um Conselho Cultural para que as várias associações do concelho tenham um sítio onde discutam ideias e, no mínimo, coordenem agendas, que é algo “simples” que atualmente não acontece. 

O candidato à Presidência da Câmara Municipal de Braga enfatizou que é preciso disponibilizar o contacto do público com as diferentes alternativas culturais para estimular a sua participação nos eventos. “Uma das lacunas de Braga é o facto de não existir um verdadeiro serviço educativo que, agregando os diversos polos de dinâmica cultural como o Theatro Circo ou o Mosteiro de Tibães, possa desenvolver iniciativas que ponham em contacto os diferente públicos com as mais variadas manifestações culturais e formas de expressão cultural”, garantiu, destacando que dessa forma seria muito mais fácil fomentar o consumo e a participação cultural nos cidadãos. 

Por fim, Rio abordou a questão patrimonial, que considerou crucial para promover a cidade no exterior e entre os próprios Bracarenses. “Do ponto de vista cultural e turístico, não podemos oferecer algo que seja distintivo e apetecível se as próprias pessoas de Braga, no seu dia-a-dia, não conseguem desfrutar do que é seu. Há muito para fazer e é urgente pôr o património ao dispor dos cidadãos, ao contrário do que atualmente acontece”, defendeu, salientando que a qualidade da oferta turística e cultural é a forma mais natural de atrair turistas e gerar uma dinâmica económica que combata a falta de emprego e de rendimentos na cidade. 




Autarquia tem de ser entidade potenciadora da promoção da cidade 

Por seu turno, Rui Ferreira refletiu sobre a cultura brácara e o calendário anual de eventos culturais, centrando-se particularmente nas festas de S. João em Braga. O Presidente da associação BragaMais garantiu que Braga é uma cidade com um património invejável e que está constantemente a ser enriquecido, com recursos em potência para explorar. “Há muito para fazer e valorizar, e isso é um grande desafio e digno de motivação para quem vai trabalhar”, salientou. 

Segundo Rui Ferreira, “não faz sentido” pensar-se turismo e cultura em separado, principalmente quando o objetivo é delinear-se uma estratégia económica de promoção da imagem da própria cidade. “Temos de saber construir a comunidade, e é a partir da cultura que nos sentimos irmanados. Uma comunidade que perde as suas referências históricas está em risco para o futuro e, nesse sentido, devíamos ser mais bairristas e termos mais gosto no que é nosso. Cabe à autarquia funcionar como entidade potenciadora dessa relação”, concluiu. 

Já Álvaro Santos, Diretor da Casa da Música, falou sobre o potencial das indústrias criativas para a economia. “As indústrias criativas não podem ser vistas como uma despesa nem como uma coisa menor, mas sim como fenómenos de criação de valor. São indústrias com um potencial enorme, mas não nos deixemos iludir, é preciso um trabalho que tem de emanar da autarquia e dos próprios agentes culturais para que estas funcionem e criem riqueza para a região”, afirmou. 

Para José Machado, da Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé”, é importante manter a riqueza das raízes e as tradições da cultura popular do Baixo Minho. “Atualmente, a cultura popular quase virou catálogo. É fundamental manter a genuinidade das tradições que identificam o nosso povo”, revelou. 

José Machado defendeu que a Câmara deve dar uma maior liberdade aos agentes culturais e que não se pode limitar a criatividade artística. “Há um enorme controlo na atividade cultural que é muito limitativa da atuação e do desenvolvimento dos agentes culturais na cidade. Essa é uma realidade que tem de ser invertida”, assegurou. 

A finalizar, o Cónego José Paulo Abreu, Diretor dos Museus da Arquidiocese de Braga, abordou o património religioso de “enorme” valor que Braga tem. “A alma do nosso povo está na cultura e também está no nosso edificado, sendo que grande parte é religioso. Temos de ter uma maior atenção com a preservação do património e de saber dar as mãos no sentido de valorizar o que de muito valioso a cidade tem”, afirmou, lamentando que até ao momento Braga não tenha sabido estimar e amar devidamente o seu património. 

Na opinião do Cónego, tem havido um desrespeito sistemático pela Sé de Braga e sua envolvente que é muito preocupante e que tem contribuído para reduzir a ida de turistas à Sé de Braga: “Por este caminho, qualquer dia a própria Sé tem de fechar as portas”, alertou. O Cónego foi ainda muito crítico em relação à atitude autárquica perante o património do Bom Jesus e do Sameiro. “Quando apenas se oferece umas pedrinhas e se deixa as Capelas e o resto do património a degradarem-se, endossando as responsabilidades todas para a igreja, não se pode apregoar que se estejam a desenvolver esforços no sentido de preservar o que é nosso”, adiantou, considerando fundamental dinamizar a Fundação Bracara Augusta para reforçar a cooperação entre a Câmara, a Diocese e a Universidade.

This entry was posted on 22 de junho de 2013 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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